20070222
quarta-feira
as notas no piano
tocadas, saíam
caminhavam pelo chão
corriam, apressadas
notas pretas,
notas brancas,
bemóis e sustenidos
tremelicando
ingressavam,
como que por mágica,
pelo pé
subiam por entre os dedos
e por debaixo das unhas
e por debaixo da derme
faziam rebuliço no cerne
as mãos formigando
o corpo inteiro em êxtase
o coração latejando
batia a cabeça contra a parede
firmemente
perturbante
apertava os dentes
grunhia
esperava que a dor sumisse
e a música nos músculos
lhe foi dando uma vontade sobre-humana
rasgou a própria roupa
sinal de desesperança
gritava por perseverança
esperava que alguém chegasse
esperava
e num átimo de desatino
pegou distância até o fundo do quarto úmido
em direção à janela fluida
e se atirou do sétimo andar
e sentiu-se livre
e sentiu-se desperto
enfim sentiu a música
como algo que não queima
e quis mais
desejou mais quedas
abriu os braços
sentiu a pureza da solidão
- e a solidão já não ardia mais -
era como água
"era pudim!", constatou
foi tudo o que conseguiu pensar
antes de se espatifar
ensangüentando o chão do pátio
ensangüentando a brisa morna da quarta-feira
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