20130319

casca


há uma música que ouvi dia desses
e ela não sai mais da minha cabeça.
me conforta o barulho da água do chuveiro
no piso do banheiro;
do ovo fritando;
da vizinha cantando funk.
há alguma tristeza no meu coração,
resultante dos meus questionamentos recentes
sobre o certo e o errado
e a duração das coisas.
me conforta pensar que nada é para sempre;
que o certo ou o errado não existem;
que o universo é grandioso demais, estupendo demais,
e que somos a ziliocentésima parte disso,
cá, nós, sete bilhões,
com nossos pequeninos problemas cotidianos
que não passam de uma casca de noz.
um casca de nós mesmos.
há uma alegria dentro de mim
que não sei de onde!
nem porquê
ou quando!

e ela insiste em achar beleza em tudo isso.
sim, até em coisas frívolas...

até em ficar o sábado inteiro sozinha em casa:
tv, internet, música, comida, banho, arrumar as coisas, ler um livro, tocar violão.
fazer as unhas do pé, tv, internet, música, comida...
um rodopio sozinha, bem no meio da sala...
a barra da saia levanta,
um samba vem parar no coração
um sorriso, no rosto.

há uma vontade de morrer...
sem o ser de verdade pois,
ao pensar em me jogar da janela do oitavo andar,
gostaria mesmo era de sair flutuando entre os prédios
só para chegar até o mar,
assim, por cima.

passaria pelos edifícios altos
e pelas janelas dos apartamentos
e daria uma olhadinha no que fazem as pessoas
na mais recôndita das horas:
uma mulher sai do banho às duas da manhã
e agora penteia seu longo cabelo;
um homem se masturba
em frente ao computador;
um casal faz amor;
crianças dormem.
eu chegaria na praia em torno das quatro da manhã.
a cor do céu é linda nesse horário.
a cor da água salgada...

eu me aproximaria devagar
e pousaria meus pés sobre a areia.
lá ficaria contemplativamente sentada.

ouviria o barulho do mar.
tomaria vento no cabelo.

às cinco em ponto
eu amarraria a barra do vestido nas coxas,
respiraria fundo
e correria até a água.

correria até onde não mais desse!

e me jogaria contrária às ondas.
e me molharia inteira.
perfeita brincadeira...
voltaria rindo.
cheia de areia,
cheia de sal.
e cheia de uma história,
feito essa daqui,
pra contar.

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